sábado, 15 de agosto de 2009

Aguardando

Olhou para o lado e viu que não era a única pessoa ali: Haviam outras, muitas outras crianças como ele, de certo modo perdidas também, de certo modo distantes de casa.
Sentou-se naquela cadeira desconfortável, e viu que ela limitava ainda mais os seus movimentos, pois não podia mexer as pernas, que estavam agora de certo modo presas na cadeira da frente.
Nesse momento olhou para o seu próprio braço.
Estava enfaixado, com uma das faixas pendendo em seu pescoço, para caso ele se mexa demais quando estivesse correndo ou tentando subir em algum muro. Não subia muros mais, muito menos corria. O braço estava engessado também.Era difícil se movimentar rapidamente com todo aquele gesso, que era realmente pesado, e as vezes cheirava mal. Quanto tempo havia perdido em meio ás poucas brincadeiras que tinha desde o acidente, tentando ver como poderia se movimentar em meio a todo aquele gesso e em meio a toda aquele monte de machucados dentro de seu próprio braço.
Além do mais, os poucos amigos que agora tinham o evitava, pois qual é a utilidade de um garoto que não consegue subir em muros, e muito menos correr? Apenas o olhavam com certo desprezo, mas mesmo assim, estavam todos perdidos em meio áquela situação.Todos. Observou um dia que elas brincavam menos, muito menos. Pois havia agora poucos lugares nos quais podiam brincar: Os adultos estavam preocupados com algo que denominavam "bombas". Não sabia o que essa "bomba" seria... sabia apenas que todas as vezes que algum adulto, principalmente uma mulher, olhava para ele, puxava alguma conversa forçadamente agradável, que no final era algo mais desagradável que o esperado. Por que estavam querendo agradar ele com aquelas palavras? Algumas pessoas passavam chorando, e mesmo assim queriam falar algo e tentavam ser agradaveis. Não entendia.
Olhou para as suas pernas. A esquerda estava se movimentando como se quisesse sair dalí, correr, fugir, com toda a vida que só ele poderia mostrar, como se quisesse voltar a viver como antes, entre as casas de seus antigos amigos (que estranhamente sumiram, foram embora). A perna direita estava com uma faixa na região do joelho. Não tinha mais nada na região abaixo. Havia perdido uma das pernas. Apenas sabia que alguns adultos comentavam algo sobre "bomba", ou "bombardeio", não entendia muito bem.
Finalmente um homem todo de branco o chamou(achava estranho aqueles homens todos de branco, por que se vestiam assim?). Pegou sua muleta, se levantou com grande dificuldade, e foi lentamente em direção a ele.

Nenhum comentário: