quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Campos brancos

Andei por aqueles campos durante mais de quatro horas. Eles não tinham fim, não tinham fim mesmo. O frio e a neve cobriam toda a sua extensão, e além do mais eu tinha medo... medo de ser encontrado, medo de morrer nas mãos deles, assim como todos os que eu conheci até hoje haviam morrido.
Meus pés doíam, aquelas botas não eram do meu tamanho. Tive que pegá-las ás pressas para conseguir fugir de onde eu estava, sim, tive que fugir com pressa, tanta pressa que não tive tempo nem de pensar para onde estava indo. Deixei minha família, filhos e pais para trás. Provavelmente agora eles estejam mortos, queimados ou empilhados em algum canto escuro de um velho galpão. Sabia, desde criança que um dia algo assim iria acontecer. A sombra da morte era inevitável, e toda aquela neve apenas consolidava todo aquele pesadelo.
Olhei para trás, e em meio á imensidão branca observei um pequeno ponto negro.
Não esperei mais nenhum segundo, corri, sim, corri tendo imensas dificuldades para respirar, pois estava tremendo de frio. Tremendo de frio e tremendo de medo. Corri tremendo, não sei o quanto, mas fiz o melhor que pude. Acabei caindo algum tempo depois em meio a toda aquela insanidade. Meus filhos estavam mortos nesse momento!
Toda a minha família! Por que me esforçava tanto para sobreviver? Por que? Como sou egoísta, um verme em meio a toda a humanidade. Provavelmente merecia morrer, pois observo tudo ao meu redor ruir e mesmo assimme esforço para continuar a viver.
As minhas lágrimas se misturávam á neve que estava no chão, e logo percebi que o meu rosto estava quase congelando. Estava praticamente abraçado com algo que não conseguia definir, e um pouco de sangue saia do meu nariz, provavelmente devido á queda.Me levantei com dificuldade, e olhei para trás.
O ponto negro que antes eu havia enxergado alguns momentos antes agora estava maior.
Quanto tempo eu fiquei no chão? Em um súbito esforço tentei me movimentar mais rápido do que antes, porém as minhas pernas doíam, eu sentia os meus pés machucados dentro daquelas malditas botas. E mesmo assim tentava correr, só um pouco mais.Após algum tempo, avistei um casebre ao longe, e sem pensar em nada eu me direcionei para lá, correndo, machucado, faminto e cansado de tudo.
Me aproximei a ele, suas portas estavam abertas e ele estava vazio. Era bem pequeno, não possuía mais que três comodos, e por isso mesmo não seria util como um esconderijo para mim. Ao lado desse miserável lugar havia um celeiro, que de longe cheirava mal, fedia demais... Mesmo assim prendi a repiração e entrei nele ás pressas. Os cadáveres apodrecidos de alguns cavalos eram insuportavelmente malcheirosos. Me joguei em um canto, e esperei. Sim, esperei em meio áquela podridão. Por quanto tempo? Não sei.

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