segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Anonimato"

Esqueceu a carteira no carro de um amigo, agora andava pelas ruas sem documentos. Por um certo tempo não gostou da situação, afinal, algum policial poderia abordá-lo, e isso não era nada agradável. Após certo tempo deixou-se levar pela situação, sentia-se livre, esquecia por alguns momentos quem era, e perdia a noção de tempo enquanto encarnava esse personagem anônimo.

Assumiu após um tempo que gostava muito da ausência de identidade forçada na qual estava inserido. Os dias se passavam e o anonimato interior o engolia cada vez mais, até que esqueceu o cachorro enquanto passeava, esqueceu a blusa em algum lugar, esqueceu a chave de sua casa, esqueceu quem era.

Sentia que estava fazendo uma loucura, mas esquecia disso um tempo depois. Seus familiares foram deixando de encontrar a falta de sentido em suas estranhas preocupações, e agora o viam poucas vezes pela semana, vagando pelas ruas com um olhar estranho.

A chuva cobria as vezes seu rosto, e a luz do sol secava as suas roupas em um varal feito de paredes e olhos curiosos. Era um dia quente quando rencontrou o amigo, no mesmo carro havia perdido sua carteira: encontrou ela novamente e voltou para casa, esquecendo os seus dias de esquecer.

2 comentários:

Anônimo disse...

esse tipo de desligamento do ser eh uma espécie de riqueza acessível a poucas mentes; talvez as pessoas devessem abandonar mais vezes a chave de casa, a blusa, as máscaras, enfim, caminhar consigo própiro com seus pensamento de lugar nenhum.

ficadica: "nowhere man" - the beatles
haha


post MT bom Anti!!!

Caio Miranda disse...

Individuação, eis a resposta ao vazio da humanidade...